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alma.ico  Antropofagia, Literatura, Modernismo e Audiovisual

O Evento

Evento internacional discute herança antropofágica na literatura e no audiovisual com participação de artistas e pensadores da África, Brasil e Portugal.

 

O projeto Alma- Antropofagia, literatura, modernismo e audiovisual – resulta de parceria entre o Labor - Laboratório de Estudos do Discurso, da Universidade Federal de São Carlos; o CIAC - Centro de Investigação em Arte e Comunicação da Universidade do Algarve, a UEMG - Universidade Estadual de Minas Gerais e o Polo Audiovisual da Zona da Mata.  Escritores, cineastas, artistas e acadêmicos do Brasil, Portugal e Angola discutem temas relacionados ao processo colonial, a emergência de uma voz indígena no audiovisual contemporâneo e o impacto da experiência modernista em diferentes territórios.

A programação foi pensada de modo a refletir sobre os sentidos contemporâneos da antropofagia. “O Manifesto Antropófago, publicado pelo escritor brasileiro Oswald de Andrade em 1928, constitui um dos mais potentes signos do modernismo literário brasileiro e uma práxis cultural presente nas artes e no pensamento crítico durante o século passado e com potenciais contribuições ao contemporâneo. É essa atualidade do pensamento antropofágico pensado para além do campo literário, como uma filosofia decolonial avant la lettre, que propomos desenvolver através de um ciclo de conferências que deve resultar na produção de uma coletânea de textos de pensadores e artistas de Brasil e Portugal”, explicam os coordenadores do evento. São eles, os pesquisadores Miriam Tavares e Jorge Carrega (CIAC/Algarve), César Piva (Polo Audiovisual da Zona da Mata), Vanice Sargentini, Daniel Laks, Pedro Henrique Varoni de Carvalho, Rodolfo Magalhães e Debora Ribeiro Rendelli (UFSCar) e Cláudio Santos Rodrigues (Universidade do Estado de Minas Gerais). 

A transposição para o campo cultural do ritual tupinambá de devorar o inimigo, inspiradora do manifesto, se tornou potência criativa de manifestações culturais, num contexto de resistência à ditadura civil-militar imposta ao Brasil até meados dos anos 1980 e de intensificação dos fluxos midiáticos globalizados. A antropofagia ressurge no movimento tropicalista, deixa marcas no teatro, na literatura e no cinema. Ao mesmo tempo em que sugere uma síntese cultural própria a partir das trocas e da alteridade, se desloca dos nacionalismos identitários presentes em certas marcas do modernismo brasileiro. O movimento se faz mais por um desejo anti narcísico pelo outro, “só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.”

Mais do que uma investigação sobre a obra de Oswald, interessa-nos pensar a ideia de antropofagia como uma chave para entendimento de temas contemporâneos que transcendem as questões de identidade nacional e, para o que importa aqui, se referem às relações culturais entre Portugal e as antigas colônias, Brasil e África. Há modernismos de um lado e de outro e eles dizem respeito também a um sentimento da língua portuguesa, à metáfora das navegações como busca de territórios existenciais. Como na Passagem das horas de Álvaro Campos: “Viajei por mais terras que aquelas em que toquei/ Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos/ Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti...”